quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

máquina do tempo

Quando completei onze anos
meus pais me deram uma máquina de escrever
Tec-Tec-Tec
Meus dedos se espreguiçavam nas folhas
E o silêncio surgia no papel branco
Como um ogro lilás
Enterrava-me na Praça da Independência
Defronte ao coreto
O sol escorria nas letras
E eu escutava o passo lento
Do calor me comendo as entranhas
Conversava horas horas horas
Com uma folha, um pássaro ou as badaladas da igreja
Tec-Tec-Tec
A mão serelepe predizia o tempo
Que me ligava a pedra
metamorfose fóssil de estrelas calor e nuvem
Tec-Tec-Tec
E as vezes um pombo cagava em minha cabeça
Tec-Tec-Tec
me mantinha na sinceridade da estátua
tem ouriços nestes versos
que flanam quando a aurora finda
Tec-Tec-Tec
guatós sindicalistas trens de ferros árabes carnavais
maria me pedia um dinheiro pro café
refazia o mundo nas teclas brancas
da máquina
que me desfazia em poeira
consumida quando atravessava a fronteira
Tec-Tec-Tec
o silêncio pedia tributo
e ele me atribulava
Tec-Tec-Tec
a máquina não parava

 

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