sábado, 22 de janeiro de 2011

Dandara - I

 
a manhã repercute suas impressões em minha tez negra
a poeira fina cobre a réstia de luz molenga que atravessa
a brecha da porta
ergo-me com a lança em punho e vou caçar:
demoro semanas mato a dentro e não trago nada que valha
um banquete
impaciente, Dandara, se acerca de mim com seus olhos famintos de comida
e amor 
promete me abandonar

“— Não sei viver sem você, Dandara! Espere que algum cateto há de aparecer.”

passam-se mais dias: cateto não aparece, Dandara desce o rio,
perco o gosto que dela guardava na boca
e desapareço, para sempre, mato adentro
a procura de um esteio para a alma.

Nenhum comentário: